quinta-feira, agosto 10, 2006

Quem é...


a atriz que fez o curta-metragem Tapa na Pantera? Um ícone.

Maria Alice Monteiro de Campos Vergueiro (São Paulo SP 1935). Atriz. Presença vigorosa, dotada de forte carisma cênico, Maria Alice Vergueiro imprime às grandes personagens que interpreta um inegável toque de pessoalidade.

Embora tendo estreado profissionalmente em A Mandrágora, montagem do Teatro de Arena, dirigida por Augusto Boal, em 1962, Maria Alice Vergueiro permanece professora de arte-educação até 1971, quando se liga ao reestruturado Teatro Oficina. Faz, em 1972, Gracias, Señor e, no ano seguinte, o filme O Rei da Vela. Com Luis Antônio Martinez Corrêa participa de O Casamento do Pequeno Burguês, de Bertolt Brecht, em 1973, apresentada no Festival de Nancy. Uma viagem a Portugal leva-a a ministrar aulas na Fundação Calouste Gulbenkian e a participar da encenação de Galileu Galilei, encenada por José Celso Martinez Corrêa no exílio, em 1975.

Desligada da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, ECA/USP, junta-se a dois de seus ex-alunos, Luiz Roberto Galízia e Cacá Rosset, para fundar o Teatro do Ornitorrinco, cuja primeira produção é Os Mais Fortes, baseado em August Strindberg, em 1977, apresentado quase clandestinamente nos porões do Teatro Oficina, rendendo-lhe seu primeiro Prêmio Molière como intérprete.

Seguem-se Ornitorrinco Canta Brecht e Weill, no mesmo ano; A Ópera do Malandro, de Chico Buarque, encenação de Luis Antônio Martinez Corrêa, em 1978; O Percevejo, em 1981; O Lírio do Inferno, um novo show de cabaré também levado a Portugal. Em 1985 interpreta com destaque O Gosto da Própria Carne, de Albert Innaurato, direção de Roberto Lage. Em 1986 está em Katastrophé, reunião de quatro peças curtas de Samuel Beckett, com direção de Rubens Rusche, que lhe rende uma série de elogios, dentre eles, este comentário da crítica Mariângela Alves de Lima: "Através do desempenho de Maria Alice Vergueiro torna-se evidente que o teatro de Beckett, apesar de sua obsessão pelos detalhes visuais do espetáculo, depende sobretudo da emissão do texto. Com uma pronúncia impecável e dotada de uma voz que muda harmoniosamente de registro, a atriz aprofunda a conotação de cada palavra. O sentido do texto não é óbvio, mas é eminente, porque carregado de tensão. Percebe-se rodeando essas falas como um desejo ou como uma ameaça, um mundo sustentado pelas virtudes teologais. Recriados por uma atriz que domina a cadência, a tonalidade e o significado das palavras, os textos de Beckett adquirem a sua estatura ideal: são palavras para o palco e não para o papel".1

Com Gerald Thomas brilha em Eletra Com Creta, em 1986, sendo premiada pela APCA. Em 1989, dedica-se a O Doente Imaginário, nova criação com o Ornitorrinco. Dirige e atua em Dom Pirlimplim com Belisa em seu Jardim, de Federico García Lorca, 1992, apresentado em diversos festivais internacionais. Em 1995 volta à direção com Quíntuplos, de Luis Rafael Sanches, e atua na Comédia dos Erros, novo sucesso do Ornitorrinco. Uma interpretação muito premiada surge em 1996, com No Alvo, de Thomas Bernhard. Dois anos depois está, mais uma vez com o Ornitorrinco, em O Avarento, de Molière, encenação de Cacá Rosset. Uma experiência na Bahia dá-se em Fausto, encenação de Carmen Paternostro, espetáculo comemorativo dos 250 anos de Goethe, em 1999. Voltando à cena, em 2002, interpreta Mãe Coragem e Seus Filhos, de Bertolt Brecht, com direção de Sérgio Ferrara.

No cinema, a atriz integra o elenco de algumas significativas realizações, como Maldita Coincidência e Romance, de Sérgio Bianchi, Perfume de Gardênia, de Guilherme de Almeida Prado; Urubus e Papagaios, de José Joffilli Filho, e A Grande Noitada, de Denoy de Oliveira.

Falando sobre seu trabalho em Katastrophé, o professor Alfredo Mesquita anota: "Espantosa, também, a interpretação de Maria Alice Vergueiro, há muito especializada no chamado teatro moderno, atriz inexplicavelmente mantida em isolamento - ia dizer escanteio - no teatro nacional, ostracismo de que o atual trabalho não pode deixar de tirá-la, dando-lhe o lugar proeminente a que faz jus. (...) Grande atriz, não digo nascente, mas há muito existente, na penumbra porém, surgida agora das sombras beckettianas para se impor definitivamente ante o público conhecedor".2

Notas

1. LIMA, Mariângela Alves de. Ardente, dolorida! O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. 4, 16 maio 1986.

2. MESQUITA, Alfredo: Fedra, Katastrophé: excelentes. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 1986.

fonte: Enciclopédia Itaú Cultural.

Entrevista no Terra.

Nenhum comentário: