terça-feira, outubro 01, 2002

As eleições e o país eleito


por Renato Pompeu

O presente artigo pode ter um tom algo místico, mas o autor espera que seja um misticismo materialista e objetivo. Estamos todos nos preparando para votar e é bastante presumível que os leitores e leitoras de Caros Amigos vão votar em massa pela mudança, pelo incentivo à produção, pela redistribuição de renda, em suma, pelo progresso.
Mas tudo isso esbarra nos estreitos limites a que está submetida, hoje, a soberania do Estado, em especial a soberania dos Estados dos países dependentes. Como mostra o exemplo da Venezuela, um governo que queira defender os interesses das grandes massas da população vai ter de enfrentar constrangimentos inevitáveis. Isso por causa da força econômica e do poder político não só dos capitais estrangeiros e dos setores a eles aliados, como também e principalmente dos setores financeiros.
Uma alternativa a essa situação poderia ser um Brasil nacionalista transformado em autarquia econômica. Conscientemente ou não, boa parte das pessoas progressistas que vota ansiando por mudanças anseia por essa alternativa. No entanto, um Brasil desligado do mercado mundial, como tenderam a ser os regimes stalinista, fascista e nazista, se veria rapidamente cercado pelo expansionismo americano, que conta com muitos aliados internos neste País. Os Estados Unidos já mostraram até à exaustão até onde são capazes de ir quando se trata de defender os interesses das multinacionais.
Outra alternativa, e aqui é que entra o misticismo invocado no início deste artigo, aponta para a necessidade e a oportunidade de o povo brasileiro ter sido eleito - pelas circunstâncias estratégicas de sua posição intermediária entre os países mais ricos e os países mais pobres, por ter em seu território a reprodução do que há de bom e do que há de ruim em todo o mundo, por reproduzir como que microscopicamente as desigualdades mundiais - para ser o profeta de uma globalização realmente globalizada. Uma globalização que não seja apenas econômica, mas também social e política. Uma globalização que vá defender o incentivo à produção e à redistribuição de renda em escala planetária. Uma globalização baseada no princípio da igualdade de todos os seres humanos do planeta, com um governo mundial eleito pelo sufrágio universal de todos os habitantes da Terra. A democracia em escala mundial é a única maneira de minimizar a arrogância dos militarmente mais fortes. Tudo isso é misticismo?

Renato Pompeu é jornalista.

fonte: Caros Amigos

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