sábado, outubro 12, 2002

Eleições


NÃO CUSTA LEMBRAR


por Sérgio de Souza

Repito aqui um lembrete feito no pequeno editorial da Caros Amigos de outubro, que está indo para as bancas esta semana. O título é o mesmo e o texto trata do segundo turno das eleições presidenciais de 1989. Lula x Collor. Quem viveu, viu. No final da campanha de 1989, os números das pesquisas não conseguiam esconder a ascensão irrefreável da candidatura do PT, apesar do apoio maciço dado a Collor pelas "elites" e pelos veículos grandes de comunicação (Roberto Marinho declarou-o abertamente). A extrema direita já espalhava boatos pelo país afora de que, eleito, Lula confiscaria as cadernetas de poupança, os proprietários das mais simples residências teriam de dividi-las com estranhos, o comunismo seria implantado no Brasil e outras diatribes. Como nem assim se conseguia inverter a tendência de uma vitória petista, os marqueteiros de Collor tiveram sinal verde para jogar ainda mais pesado. Então contrataram os serviços de uma ex-namorada de Lula para que ela "revelasse" na televisão que fora forçada pelo então namorado a fazer um aborto. O escândalo forjado atingiu em cheio a candidatura do PT. Logo em seguida vem o último debate. Na Globo. Lula se mostra constrangido, não havia conseguido assimilar o golpe, mas seu inibido desempenho ainda não é o suficiente para Roberto Marinho, que obriga o obediente departamento de jornalismo da Globo a editar o debate de forma a apresentá-lo no Jornal Nacional inequivocamente favorável a Collor. Já parecia ser o bastante, mas um último ato de sordidez estava por acontecer: na véspera da votação em segundo turno é anunciado o cerco à casa onde está seqüestrado Abílio Diniz, o dono dos supermercados Pão de Açúcar. E, com todo o estardalhaço, mostra-se na televisão, no dia da eleição, a libertação do empresário. Com o detalhe escabroso: no cativeiro, material de campanha do PT e seqüestradores vestindo a camiseta do partido. Tudo devidamente produzido pela polícia, soube-se depois. Assim, no espaço de poucos dias, na reta final da campanha, criaram o clima de terror e intimidação que acabou por dar a vitória a Collor: 53 por cento dos votos contra 47 por cento de lula.
Agora faltam duas semanas para o segundo turno de uma eleição que pode alterar profundamente, mais do que então, os rumos da história brasileira. O candidato à esquerda conta com apoios e a aprovação da população muito maiores do que em 1989.
Neste momento, Soros na matriz, Fraga na filial, tratam de fazer projeções sombrias sobre a economia brasileira caso se confirme o que está escrito no horizonte eleitoral. O que vem sendo planejado para tentar a reversão do quadro favorável à oposição não se sabe. Sabe-se apenas que as "elites" são capazes de tudo em momentos como esse. Em compensação, sabe-se também que de vez em quando elas podem errar, principalmente por desdenhar a sabedoria popular.

Sérgio de Souza é jornalista.

fonte:Caros Amigos

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