quarta-feira, junho 12, 2002

Agora é com você, programador


Por Paul Boutin da Wired News

Depois de ter conseguido unificar os padrões dos navegadores Web, o WaSP quer eliminar a última barreira para a acessibilidade total na WWW: os desenvolvedores de sites. Por Paul Boutin.

Jeffrey Zeldman e o Web Standards Project estão de volta com um chamado para todos os desenvolvedores da Web: o problema hoje em dia não é a Microsoft ou a Netscape. É você mesmo.

A organização, também chamada de WaSP, foi fundada em 1998 por um grupo de desenvolvedores Web de alto nível (entre eles Zeldman) que estavam cansados de desenvolver várias versões diferentes para os mesmos websites, a fim de torná-los compatíveis com os navegadores da Microsoft, Netscape e outros fabricantes. "A expressão 'Web Standards' nem existia naquela época", conta Zeldman.

Mas as versões posteriores dos navegadores ficaram mais compatíveis com os padrões e entre si, e a WaSP descontinuou suas operações em 2000. Agora, Zeldman diz que chegou a hora de superar outro obstáculo, possivelmente mais difícil, à acessibilidade universal na WWW: a incompatibilidade entre aqueles que constroem os websites. "Embora os navegadores de hoje suportem os padrões, existem dezenas de milhares de designers profissionais que continuam usando métodos ultrapassados", diz uma nova versão do site do WaSP que ficará online a partir desta terça-feira.

O resultado, de acordo com o pronunciamento da entidade, é todo um público cujo acesso a estes sites é impedido. "Profissionais muito bem pagos continuam criando sites inválidos e inacessíveis" aos usuários de browsers de outras marcas e de dispositivos sem fio, e daqueles que necessitam de tecnologias especiais de acessibilidade.

Enquanto os donos dos websites se preocupam mais com as regras de acessibilidade determinadas pelo governo americano na chamada Seção 508, Zeldman diz que as empresas procurando alcançar mercados mais amplos (ou seja, clientes que não estão necessariamente sentados em frente a um computador desktop) sem a necessidade de gastar em projetos adicionais de codificação.

Se o conteúdo da Web for concebido e desenvolvido para atender aos padrões definidos pelo World Wide Web Consortium (W3C), diz Zeldman, "Não é preciso criar três ou quatro versões de cada página, nem versões para impressão. Isto é importante nos contratos de US$ 40 mil comuns hoje em dia, muito diferentes daqueles sites multimilionários do boom das pontocom".

No entanto, se comparada com a tarefa de fazer com que algumas poucas empresas trabalhem dentro das mesmas regras, a de fazer com que toda a indústria se concentre em obedecer a padrões específicos pode ser mais do que uma dura luta para o recém-ressuscitado WaSP. "É uma longa batalha para convencer as pessoas a mudarem a maneira como fazem seu trabalho", disse Zeldman pelo telefone, de Manhattan. "Pretendemos guiar nossos colegas amigavelmente em direção à acessibilidade e à adoção de padrões", afirmou. "Se isso não funcionar, vamos fazer com que se sintam culpados. Se ainda assim não tivermos sucesso, vamos ridicularizá-los impiedosamente, como fizemos uma vez com a Microsoft e a Netscape".

Se os desenvolvedores não lhe derem ouvidos, talvez eles decidam prestar mais atenção em um novo membro do WaSP: Tim Bray, um dos inventores do XML e atual líder da Antarcti.ca Systems, uma empresa que faz visualizações de dados baseadas em XML. "Eu quero que os desenvolvedores vejam a realidade da Web moderna", disse Bray em um e-mail. "Navegadores que atendem aos padrões, Seção 508, Web services, a monocultura do Internet Explorer sendo atacada pelo Gecko e por outros dispositivos fora do formato PC... Quero que eles concluam que o único caminho sensato e econômico adiante é a padronização de seus conteúdos. Houve um tempo em que os padrões eram um extra opcional. Simplesmente não acredito que isso ainda seja assim".

Assim como Zeldman, Bray também acha que uma economia mais restrita deve forçar os desenvolvedores a repensar suas metodologias. "O governo federal americano é muito bom no que diz, embora nem sempre no que faz. Mas acho que no fim das contas a liderança deve partir do mercado. É mais seguro, melhor e mas barato construir sua presença na Web a partir de padrões".

Até alguns dos antigos alvos do WaSP apoiam as novas iniciativas. "O WaSP está certo ao dizer que os sites da Web estão atrás no que diz respeito à adoção de padrões que já são usados pelos navegadores", disse Hakon Lie, CTO da Opera Software da Noruega. "A maioria dos grandes websites pode ser melhorada removendo-se intrincados layouts de tabela e marcações supérfluas. Não há mais a menor necessidade de se usar elementos de fonte".

Um programador de HTML que não quis se identificar, no entanto, ilustrou a dificuldade que o WaSP irá enfrentar para conseguir fazer com que os programadores deixem de lado seus truques: "Vocês têm idéia de quanto eu ganho para saber esse negócio?"

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