quinta-feira, maio 09, 2002

Bronca


De uma amiga que esta morando em Londres

AMIGOS


Tenho amigos que na(o sabem o quanto sa(o meus amigos.
Na(o percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho
deles.
A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o
objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o
ciúme, que na(o admite a rivalidade.
E eu poderia suportar, embora na(o sem dor, que tivessem morrido todos os
meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!
Até mesmo aqueles que na(o percebem o quanto sa(o meus amigos e o quanto minha
vida depende de suas existe;ncias...
A alguns deles na(o procuro, basta-me saber que eles existem.
Esta mera condiça(o me encoraja a seguir em frente pela vida.
Mas, porque na(o os procuro com assiduidade, na(o posso lhes dizer o quanto
gosto deles. Eles na(o iriam acreditar.
Muitos deles esta(o lendo esta crônica e na(o sabem que esta(o incluídos na
sagrada relaça(o de meus amigos.
Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora na(o declare e na(o
os procure.
E r's vezes, quando os procuro, noto que eles na(o tem noça(o de como me sa(o
necessários, de como sa(o indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque
eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram
alicerces do meu encanto pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado.
Se todos eles morrerem, eu desabo!
Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles.
E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem
estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.
Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima
por na(o estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer...
Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida na(o
me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando
comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só
desconfiam ou talvez nunca va(o saber que sa(o meus amigos!
A gente na(o faz amigos, reconhece-os.

Vinícius de Moraes

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