quinta-feira, maio 02, 2002

Conto de uma bruxa em evolução


Tirado do blog www.naturezahumana.blogspot.com

Ana e a trilha


Ana, pegue aquela trilha ali no fundo do quintal e vá ao bosque atrás de tua casa.
Quando passar pela pequena ponte, limpe sobre o regato a fuligem de seus ombros.
Encontre um lugar com flores e deite-se...
De lado, com a cabeça no solo, ouça seu coração bater.
Continua e serenamente.
Em seguida, tente ouvir o coração da Terra, da Mãe.
Na se preocupe, cada um ouve sempre alguma coisa... Nunca da mesma maneira.
Então, com calma, apazigue suas feridas. Conforme-se, nunca serão cicatrizadas, apenas acalmadas.
Esqueça do que fizeram com sua aparência.
De que fizeram dos seus dons, maldições.
Afastaram quem te enxergava com baldes de inveja.
Destruiram sua auto-estima para sentirem-se melhores que você.
Como são idiotas, mal sabem que ninguém é superior à ninguém.
Os que sabem, ignoram esta divina verdade porque, um dia, alguém também os derrubou.
Círculo vicioso.
Todos atacam todos.
Quem começou tudo isto Mãe?
Competição, orgulho e preconceito.
Palavras retilíneas em um mundo que deveria ser ondulado como o mar....
Mas vamos! Apressa-te!! Apazigue suas feridas!!
Não deixe criar pus! Isto envenenaria teu sangue! Te deixaria cega!
Abras seus braços. Sinta a gravidade da Terra incidir sobre você.
O abraço da Mãe.
Sinta os pequenos grãos de areia machucando sua pele.
Substitua suas dores por esta que logo passa.
Traz algum alento?
Ana..Ana... Por que deixa-se levar? Por que tenho sempre que vir em teu auxílio?
Você não sabes que fica doente?
Sempre passa mal. Se te olham torto, se te agridem ou quanto se defende.
Se esquece que teu espírito fica nestas horas enraizado profundamente em tua carne.
Seus ouvidos sangram com palavras ásperas.
Tua língua sangra quando profere palavras ácidas.
Às vezes, você te fere e ao teu espírito.
Quando a dor acalmar, tome um gole de àgua do riacho.
Lave tua boca do ácido gosto de vômito.
Sinta-se bem.
Olhe para o céu e veja as figuras que os Devos fazem para te animar.
Eu sei...eu sei...ninguém escolhe ser bruxa.
Não revolte-se contra o Deus.
Não é culpa dele. Deturparam sua força e perverteram sua aparência.
A força dele é utilizada pela humanidade para acabar com tudo o que pertence à Mãe.
Lute bravamente você também. Lute.
Já é tarde.
Volte para seu cárcere.
Repouse a cabeça em seu travesseiro recheado de Alfazema.
Presente da Mãe.
Embale-se com seu próprio cheiro.
Durma em paz Ana.


Debora Costa

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