quinta-feira, maio 09, 2002

Telejornal do Dr. Roberto


EM QUEM RONALDO VAI VOTAR PARA PRESIDENTE?

Publicada em: 08/05/2002

Mereceu foto e matéria no Globo a entrevista de Ronaldo (outrora Ronaldinho) ao Jornal Nacional esta semana. Seria um fato corriqueiro não tivesse a entrevista sido concedida na própria bancada do JN, um espaço jamais aberto à opinião de entrevistados.

Entrevistar personalidades em bancadas de telejornal, entretanto, não tem nada de inédito. No final dos anos 80, início dos 90, o Jornal da Manchete já fazia isso abundantemente. Boris Casoy, também nos idos de 80, cansou de levar para sua bancada no Telejornal Brasil, do SBT, as mais variadas figuras da nossa vida pública, de atletas a políticos. Na própria Globo, há pelo menos quinze anos, Leda Nagle, no jornal Hoje, conduzia com habilidade entrevistas com artistas.

De modo que, tanto alarde só se justifica por ter acontecido no telejornal do Dr. Roberto, como é conhecido dentro da emissora o Jornal Nacional. O JN esteve sempre submetido a uma camisa de força. Durante o chamado período revolucionário, o JN serviu aos interesses dos militares de plantão que ditavam os rumos do país. Jamais ofereceu qualquer tipo de resistência. Ao contrário, procurou tirar o máximo de proveito da mordaça que se abateu sobre a imprensa brasileira. Com isso, a pequena emissora do Jardim Botânico inaugurada em 1965 cresceu e tornou-se o império que é hoje.

O período de exceção acabou, mas o uso do cachimbo fez a boca torta. E o Jornal Nacional manteve o vício da parcialidade e continuou sendo usado em benefício de uma linha editorial comprometida com interesses políticos e econômicos. Sem contar sua utilização, especialmente em épocas pré-eleitorais, para fazer decolar uma candidatura ou derrubar um candidato que não interesse ao ?establishment?. De um modo geral, quase nada ali é noticiado de graça. É preciso saber interpretar as entrelinhas das matérias. Certamente estarão a serviço de alguém ou da própria empresa.

Por tudo isso, a entrevista com Ronaldo transcorreu fria e calculada, sem emoção. Os apresentadores, sem nenhuma culpa, estão também amarrados na camisa de força e fazem seu trabalho burocraticamente. Sabem que não podem perguntar nada além do que está no script. O caro leitor já imaginou se a Fátima ou o William perguntasse ao nosso amado ídolo algo assim: ?Ronaldo, sobre futebol a gente já sabe tudo o que você tem feito e o que pensa, você poderia declarar em quem vai votar para presidente da república??

Certamente uma pergunta dessa jamais algum apresentador do JN teria coragem de fazer. Isso lhe custaria a cadeira (e a cabeça, claro). Além do mais, o nosso bom Ronaldo está mais preocupado com sua Ferrari e com sua conta bancária. É uma doce e ingênua figura que quer apenas provar que ainda pode jogar futebol e amealhar mais alguns milhões.

A verdade verdadeira, caro leitor, é que a Globo gastou alguns milhões de dólares na compra dos direitos de transmissão da Copa. Tem mesmo é que badalar Felipão e sua família e dedicar quase metade do tempo do JN para a seleção. Se o Brasil for mal na Copa, a emissora toma um belo prejuízo com a queda da audiência, além de ser acusada de pé-frio, pelos torcedores.

A partir de agora, portanto, torcida brasileira, é vibrar e apostar tudo nos nossos craques. E esquecer a tragédia nossa de cada dia. Ontem, o SP-TV dava dicas aos paulistanos sobre como evitar os sequestros. Prá frente, Brasil.

Eliakim Araujo - Direto da Redação

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